29.8.07

amor à primeira vista

a meninazinha dos cabelos de fogo espetados tinha visto o meninozinho da cabeleira vasta apenas uma vez, no parque, quando caiu do balanço e ele correu para ajudar. ao longo dos seus 11 anos, não teve dúvida: foi amor à primeira vista. depois foi virando rotina, ela no balanço subindo e descendo, ele louco de um lado para o outro em sua bike modelo cross. apenas se olhavam, ele passava direto e ela ficava feliz, bem feliz.
depois de um certo tempo, resolveu que não era tão meninazinha assim e pensou em formas de se aproximar. cair de novo do balanço? não, meninazinha demais. o fato é que, de uma hora pra outra ele sumiu. nem bike modelo cross nem louco de um lado para o outro. não apareceu mais. e a meninazinha dos cabelos de fogo espetados sofreu de amor pela primeira vez. isso mesmo,
ao longo dos seus 11 anos, não teve dúvida: foi amor a primeira vista. e doeu.

28.8.07

o amor é uma forma estúpida de possessão egoísta

o amor é uma forma estúpida de possessão egoísta. ela pensou assim antes de dizer que não queria mais e precisava ir embora. ele, desesperado, puxou a arma da gaveta e disse que não aceitaria. maria olhou firme para joão e disse pode ir em frente, vai... atira. ele não pestanejou. seis balas entre os olhos. o amor é uma forma estúpida de possessão egoísta, ele pensou.

olhos graúdos desenho japonês

a menina dos olhos graúdos desenho japonês atravessou a rua como fazia todos os dias as 23 horas. olhou para um lado, depois para o outro e foi. seus olhos graúdos tinham um quê de tristeza outro de melancolia, como a própria rua. imaginou porque tinha que ser assim. seguiu seu caminho e se preparou, silenciosamente, para atravessar outras e outras ruas.

8.8.07

adolescência pueril, literatura romântica e música triste

da vida, sempre soube pouco, sobre o sentido e seus motivos.
com 15 imaginava que morreria aos 21.
adolescência pueril, literatura romântica e música triste.
combinação imperfeita.
depois o tempo passou...
não morreu.
percebeu que o sentido da vida é contraditório.
só se completa e passa a existir com o seu fim.
adolescência pueril, literatura romântica e música triste.
...
quando dormiu, ela imaginou que seu momento havia chegado.
colocou o disco do cartola e ouviu o mundo é um moinho.
serviu uma dose generosa da cachaça da estante
e tomou de gole só.
sempre havia sonhado com esse momento.
pensou: como não havia feito isso antes?
deixou a música acabar,
tomou outra dose e dormiu.
não sabia como seria o mundo
naquela manhã de domingo.
...
descarregou a arma, pensou na janela.
lembrou do veneno adicionado a cachaça.
como não havia feito isso antes?

(para alguns amigos, que nesse meio tempo,
descobriram o sentido contraditório da vida...)

7.8.07

sorrindo com os braços abertos

caminhou pelo lado esquerdo da estrada
e olhou para frente, sempre.
o sol quente queimava a pele
e a luz ofuscava a visão um tanto torpe.
imaginou onde aquele caminho poderia levá-lo.
pensou que nunca mais voltaria pelo mesmo lugar.
recordou das músicas, dos filmes e dos livros...
fechou os olhos e sonhou...
com ela, no fim do dia
sorrindo com os braços abertos.
acordou.
não poderia mesmo ser tão feliz.

1.8.07

alice

as marcas nas mãos suadas pouco ou nada significavam para ela. alice, ao longo de seus 70 anos, fez quase tudo que sempre quis fazer. muitos homens, nenhum arrependimento e a satisfação por não ter amado ninguém. olhava para trás e ficava sempre revisando tudo que havia vivido. pensava obsessivamente no fim dos seus dias, na forma de sua morte e no que todos sentiriam quando soubessem da notícia. fazia planos, imaginava situações e criava listas das pessoas que queria no seu velório. alice, 70 anos, havia sido uma mulher feliz. muito feliz...
então foi assim, sem mais nem menos. ela sentou no banco da praça em frente do relógio e começou a olhar o tempo passar. o tempo passou, não teve pena. passou e alice foi ficando. não tinha mais pressa nem motivo. queria que fosse daquele jeito, vendo a vida e a cidade se movimentando. sabia que depois de um tempo parada, olhando tudo, iria parar de respirar e morrer. assim, sem mais nem menos.