29.5.07

sobre o asfalto quente e sob o calor - II

as costas, cansadas de tanto tempo
não haveriam de suportar.
entre a dor e o desespero a desesperança.
da desesperança,
a certeza do fim.
do fim, sorriso maroto cínico
de quem chegou a algum lugar.
no lugar, nada como sempre.
até quando haveria de ser assim?

sobre o asfalto e sob o calor

os pés, arrastando-se sobre o asfalto quente
sangram do calor e do cansaço.
até onde eles podem ir?

26.5.07

feliz aniversário meu bem



quandos os olhos pararam de tentar olhar eles finalmente viram.


então surgiu o amor, como que por encanto e delicadeza.


17.5.07

depois do tempo

então depois do tempo pouco sobrou
depois da sobra nenhum tempo
do amor e dos restos sempre quis pouco
do pouco, nunca o resto.
olhei para o lado e não vi mais nada
tentei ouvir e não haviam palavras
com o tempo, paciência
com o fim, pouca esperança.
mergulhei e não quis retornar
desisti e depois sorri
quando consegui sorrir, acho que chorei
nem sei
...
não sei.



12.5.07

dos dois lados

Andando nas ruas... olhar baixo
Um barulho chama a sua atenção
Te desperta... te faz sentir
Alguém não gostou
De alguma coisa...
São coisas...
Uma bala se perdeu
Achou teu rastro
Te fez ouvir bem de perto
Nos ouvidos... um tiro
Dos dois lados
Você sente
Agora... sorri
Morre talvez
Não sei de quê
... de coisas?

São coisas... acontecem

ricardo coração de neon

no alto do morro pulsava um coração de neon saudável e falido de um gangster mordaz. na cela cento e vinte e quatro do presídio bangu oito ricardo pensava em dulcinéia. no coração que piscava a última esperança. do amor que brilhava no alto, a melancolia das grades de ferro. da lágrima no lado esquerdo do rosto da mulher amada a última chance para o velho malfeitor.

arquitetura pós-moderna

O número 370 da minha rua era de certo o mais imponente. Casa construída sobre treze metros de concreto puro estilo Cassiano Branco das bandas portuguesas. Arquitetura pós-moderna pode crer. Chamava atenção o cinza madrugada e a frente em vidro pouco fume e pouca claridade. Dinheiro das bandas dinamarquesas. Em cima forrada em laje sem grade de proteção. Arquitetura pós-moderna com certeza.
Aninha tinha quatro anos e era a graça da família. Modelo infantil das sandalinhas Melissas transparentes idade três a seis. Brincava na laje vigiada pela babá monga mulata gostosona. Corria a menininha. Dormia a gostosinha. Então, a Aninha passou direto e mergulhou no jardim da frente com tulipas cintilantes. Quebrou o pescoço e morreu a engraçadinha. Arquitetura pós-moderna.

6.5.07

.então...

.então percebi os imensos olhos castanhos, que me olhavam com um jeito de que não poderiam olhar algo diferente...
.então percebi a boca carnuda, que me sorria com um jeito de que não queria sorrir algo diferente...
.então percebi as macias mãos, que me tocavam com um jeito de quem queria nunca tocar algo diferente...
.
.
.
.então percebi o tempo, esse inimigo mordaz que resolveu passar rápido demais...
.então,
.percebi que nada mais poderia ser feito
...

2.5.07

como poderia ser diferente?

os primeiros acordes de bodies, dos sex pistols...

o moicano do de niro, em taxi driver...


o velho bukowski, em mulheres...


a propriedade é um roubo, do proudhon...


como poderia ser diferente?