16.12.10

queria pouco agora

cada caixa com cada folha dos textos antigos,
dos cartões postais e cartas que nunca foram recebidas
representava um pouco menos dela em sua vida.
doía...
dor sincera aquela, lenta, arrastada e contida.
depois de tanto tempo e tantos desacertos,
aquele havia sido o definitivo.
no fundo, a sensação de ser o melhor caminho
era uma certeza que nunca queria ter tido.
mas assim foi... caixa por caixa,
até deixar completamente vazio
o último espaço que ainda o mantinha próximo
ao que não mais existia.
dali, parar no primeiro bar,
escolher alguma canção que falasse de amor e dor na jukebox
e beber até perder a noção e ficar entorpecido pelo passado.
talvez a garota legal do apartamento da frente
pudesse ser um sinal de que nem tudo
estava perdido.
queria pouco, um sorriso talvez
ou no máximo um ombro macio
pra adormecer em paz.
lady, cante uma canção pra mim, please.
...
queria pouco, agora.
poderia ser feliz com pouco, só isso.


para Van, que sempre quis pouco, como agora.

12.12.10

a possibilidade de um crime

joana via no rosto de cada um a possibilidade de um crime...
porque sempre imaginava o sentido da vida como uma incontrolável sucessão de crimes passionais.

2.12.10

palavras perdidas do velho buk












porque enquanto chovia e o dia acabava
,
ela caminhava imponente e sóbria
na avenida, entre os carros e a lama.
naquela segunda que amanheceu quente
e terminou fria ruth tinha feito pouco
ou quase nada.

o gosto de vodka vencido,
o mesmo disco arranhado de tom waits,
as palavras perdidas do velho buk
e o amor impossível da noite passada.