29.3.07

naquele dia

as pernas do homem velho cruzaram o asfalto frio da manhã por vir.
da noite em claro, da barriga sem nada, pouco ficaria.
haveria de mudar tudo naquele dia.
escolheria o salvador pela aparência, cara de gente triste dá raiva.
então faria o que sempre deveria ter feito.
o três oitão na cabeça e a ordem sem piedade: "vai, entrega logo!"
sem reação melhor ainda.
esperava sim, pelo menos naquele dia, comer bem e ser feliz.
depois morrer.
e sorrir.
só naquele dia.

28.3.07

19.3.07

e os pés caminharam juntos um dia

"E os pés caminharam juntos um dia,

como haveria de ter sido.

Das pernas cansadas, da areia da praia,

as marcas de uma vida ainda curta,

mas perene."

(para gabriel)


16.3.07

morri. sorri

a chuva que caía forte,
de pingos grossos, enormes,
machucava meu rosto
enquanto, deitado no asfalto ainda quente,
olhava para o céu.
não via nada,
nuvens negras e fios de alta tensão
cortavam meu campo de visão.
então esperei.
a primeira gota vermelha veio de repente.
depois outra e mais outras.
na língua ávida senti o gosto de sangue.
era meu, não sei como.
sorri.

11.3.07

memórias do cavaleiro solitário

Te matei sem querer. Não tinha culpa se cuspias demais e tinhas o hábito pouco comum de peidar enquanto gozavas em nossas epopéias sexuais. Confesso que te amava, não minto. Afinal, foram apenas seis golpes certeiros com a peixeira enferrujada bem no meio da buceta gasta, porém honesta. Sete era o teu número de azar.
***
Fazia um barulho interminável do saco de pipoca sendo remoído bem na cena do happy end. E depois o cróac cróac da pipoca na boca quando o pau do mocinho parecia em ponto de bala. Claro que não agüentei. Na gerência, disparei três vezes entre os olhos do moço loiro atrás da mesa revirando papéis. Errei, era o recepcionista.
***
O oclinhos quadradinho azulzinho denunciava o crime. Cursava Jornalismo numa particular e preparava a tese sobre Meios de Comunicação Alternativos. Haveria de matá-lo enfiando 84 bolinhas de gude cu-a-dentro e lacrando com Super Bonder ultra rápido.
***
Parecia tudo perfeito. Era linda e tinha curvas perfeitas quadril-de-miss-pele-bronzeada. E eu com dentes tortos de peixe e hálito sempre por renovar não acreditando no interesse súbito. Não poderia me dar bem. Haveria de currá-la com mais dez do time da rua. Depois, tinha o treino do profissional e era a minha chance de aparecer mesmo improvisado na lateral.
***
Tinha comprado dois discos do Ivan Lins e um do Oswaldo Montenegro. Sem dó nem piedade: um único tiro certeiro na boca pra aprender a ser gente.

4.3.07

morreu. sorriu (2).

amor tem a ver com cegueira, surdez e mudez.
não há outra forma de fazer isso acontecer, o amor.
quando juliano descobriu isso decidiu morrer.
pensou nos momentos que haviam influenciado sua decisão.
olhou profundamente para si mesmo.
pensou seriamente o quanto idiota havia sido.
então, assim mesmo, decidiu dar fim aquilo tudo.
antes, olhou para o menino da noite anterior ao seu lado.
morreu. ele, juliano, simplesmente parou de respirar.
depois sorriu e descobriu que não tinha sido tão ruim assim.
poderia, realmente, ter sido mais feliz.