28.4.08

sabia usar bem as palavras...

ela por perto, dizendo sempre que o amava. ele, nem aí, como se estivesse morto ou coisa assim. sabia usar bem as palavras, felizmente. sabia usar bem as palavras, infelizmente. e tudo que foi dito ficou como uma lembrança ruim. e tudo que seria dito ficaria como o melhor que ele poderia oferecer.

(para N, por tudo que ainda será dito)

não valeria a pena

na primeira, caída lentamente do conta-gotas, sorveu com prazer o gosto estranho daquele veneno. sabia que teria poucos segundos e, sendo assim, resolveu ser feliz naquele momento derradeiro.
com a voz já quase inaudível, pegou o telefone e ligou pra ele. ruth sabia mesmo que teria pouco tempo. quando ele disse alô, tentou desesperadamente dizer que o amava, apesar de tudo. não conseguiu.
perdeu as forças de uma vez, caiu pro lado e deu o último suspiro, sorrindo. do outro lado, ele pouco entendeu o que estava acontecendo. no seu último pensamento, ruth havia desistido de declarar seu amor para ele. não valeria a pena.

10.4.08

por alguns instantes

pegou pelas pontas do disco e colocou lentamente na vitrola. posicionou a agulha, deu play no botão do lado direito e correu pra poltrona velha na sala com a parede rebocada. ouviu, de olhos fechados. pegou o copo de cerveja e tomou devagar, pra sentir o gosto até a última gota.
aquela mulher, que cantava meu mundo caiu sabia o que era dor, como ela. fazia tudo pra que ele sumisse de sua vida mas era sempre a mesma coisa. ele chegaria logo, o velho bafo de bebida amanhecida e o cheiro da puta com quem passara a noite. ela, submissa como todas as vezes, talvez no máximo fizesse birra pra que tomasse banho e ficasse pelo menos limpo.
sendo assim, seriam felizes por alguns instantes, e depois tudo voltaria ao normal... ela continuaria passando noites e noites bebendo e esperando por ele, que chegaria sempre quando o dia amanhecesse para serem felizes, por alguns instantes.

dazed and confused

das palavras que ela sempre repetia. do canto do olho, quando acordava mal humorada. algumas lembranças, parcas e verdadeiras. e só.
depois um tiro certeiro, entre os olhos, pra aprender que sua música favorita sempre será dazed and confused. e só.

vermelho sangue, vestido longo

uma lady... de vermelho sangue, vestido longo,
lama nas pontas do tecido arrastado pelo chão de barro.
nem sabia como havia parado ali.
passou a mão pelo corpo,
localizou as dores...
apertou onde doía mais.
apertou.
doeu mais.
vermelho sangue manchado de sangue,
arriscou um grito de leve,
sufocou na hora de gritar.
uma lady...
vestido sangue, vermelho longo.