respirou fundo, correu.

tomou distância, bem muita. andou pra trás, bem muito. respirou fundo. correu, 10, 9, 8, 7 ,6, 5, 4, 3, 2, 1... chegou. chutou forte o muro da pintura envelhecida com o pé direito. ouviu o barulho dos ossos quebrando. marca de sangue enfeitando a aparência decadente. tomou distância, bem muita. andou pra trás, bem muito. respirou fundo. correu, 10, 9, 8, 7 ,6, 5, 4, 3, 2, 1... chegou.

talvez um dia tudo pudesse ser melhor

passou a mão nos olhos, primeiro no esquerdo, depois no direito. tinha certeza que não conseguiria mais enxergar absolutamente nada. contentou-se com a penumbra, com os vultos que iam e vinham. andou dois passos, recuou. não lembrava como havia chegado até ali. não sabia onde era ali. levantou os braços, tateou no vazio tentando segurar ou tocar alguma coisa. andou mais um passo. passou novamente a mão nos olhos, primeiro no esquerdo, depois no direito. abaixou-se lentamente, sentou-se. decidiu ouvir todos os ruídos ao seu redor. enfiou o dedo no ouvido esquerdo, depois no direito. limpou o resto da sujeira, tentou perceber melhor todos os sons. não conseguiu identificar nada, nem o que via, nem o que ouvia. resolveu esperar o tempo passar. ali, que não sabia onde era, sentado, com a penumbra e os ruídos indecifráveis. talvez um dia tudo pudesse ser melhor.

ser feliz é um jeito de se deixar dominar pelo autoritarismo da maioria

olhou para o alto e não viu o fim da escada. começou a subir.
sabia que no final não haveria nada especial nem tampouco qualquer forma de felicidade.
ser feliz é um jeito de se deixar dominar pelo autoritarismo da maioria.
alice resolveu ir com calma, degrau por degrau, um a cada momento, um de cada vez.
haveria de ser assim para sempre, enquanto a escada não acabasse, enquanto houvessem degraus para serem subidos.
alice decidiu não se importar.
então colocou mais um pé e depois outro e mais outro. nem precisou de força.
sabia que em pouco tempo chegaria lá, onde a escada continuaria e não poderia desistir de subir.
alice resolveu subir, mais e mais, apenas isso.

(para N, por toda a felicidade de todo esse tempo que virou escada...)