12.11.06

Heresia pura

Achei coisas antigas, escritas tempos outrora.
Aí vai uma delas, de 5 anos atrás...

HERESIA PURA

Eu não gosto de dança, artes plásticas, música clássica e poesia concreta.
Heresia pura!
Tudo começou quando, numa mesa de bar, uma amiga disse, com todas as letras e fonemas que, pasmem, não gostava de circo. Fiquei besta. Como podia não gostar de circo? Porra, circo é uma coisa bem legal, fez parte da minha infância e tudo o mais.
O passo seguinte foi mais radical ainda. Todas as demais pessoas na referida mesa, sem dó nem piedade, passaram a listar coisas tidas como bem conceituadas e de que também não gostavam. Saiu de tudo: Raul Seixas, Legião Urbana, Ana Paula Arósio, John Lennon, os balés da EDISCA, etc, etc, etc... Foi um desfile interminável de ódios e desgostos instantâneos. Houve até quem dissesse que o Sean Lennon era melhor que o John. E o que é pior: houve quem concordasse. Só vendo. Até lembrei de outro amigo meu (tava na mesa vizinha, o tal) que, no seu blog, teve a ousadia de afirmar que não gostava da Bjork e do Radiohead.
Heresia pura!
Alguns dias depois, pus-me a pensar sobre gostar e não gostar, ou melhor, dizer ou não dizer do que não gostamos. E eis que me deparei com uma verdade quase que absoluta: poucas vezes, raríssimas vezes, nós temos a coragem de dizer coisas negativas sobre as pessoas, sobre os fatos e sobre as unanimidades. Poucas vezes, temos coragem! Só isso.
É como se vivêssemos sobre um enorme manto que nos impede de duvidar, questionar ou simplesmente afirmar que isso ou aquilo não é muito bom segundo o nosso modesto ponto de vista. Há, senhores, uma grande ditadura do bom gosto, por assim dizer, onde falar "não" pode significar ser mal educado, grosseiro e sem cultura.
E as mulheres, certamente, não perguntam sobre o seu vestido ou o seu penteado para ouvir que são feios, fora de moda ou que não caem muito bem com aqueles pneuzinhos a mais. Isso, nunca! Dizer que o fulano ou o sicrano são uns chatos, nem pensar! Pode magoar ou mesmo pegar mal até para quem não tem nada a ver com a citada chatice.
As sociedades contemporâneas, perfeitamente representadas pelos meios de comunicação de massa, vivem uma época de uniformização absurda. Todos devem ser iguais, pensar da mesma forma, usar as mesmas roupas e, se possível, caminhar lado a lado trotando o mesmo passo como soldados em desfile de sete de setembro. Esse é o grande objetivo. Pessoas iguais, felicidades artificiais e pouco, ou nada, a dizer.
Sabe, acho os Irmãos Aniceto uma grande bobagem para intelectuais recalcados, música mal tocada e coreografias ridículas.
Heresia pura, eu sei.
Mas fazer o que?
Eu nem mesmo quero ir para o céu por ser um moço bem educado.
Aliás, nem do céu eu gosto!
E tem mais: gosto de viados mas detesto viadagens.
Só isso.

Fortaleza, 14/11/01.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sabe,vou dizer uma coisa já comentada por outras,hahahaha. Sou tua fã, nunca te disse isso...mas aqui vai...

Kissinhos

Anônimo disse...

Olha ando acompanhando o seu blog, a Nádia "sua fã n° 1" sempre faz algum comentário. E simplesmente você foi muito feliz nesse texto, retrata muito a convivência, as relações e regras que devemos ter em "sociedade".
bjs...