passou como um foguete, depois parou para tomar fôlego. sentado em frente ao alvo, haveria de ser melhor na segunda tentativa. preparou o rifle e esperou quando ele começasse a correr, não erraria novamente. one, two, three, four...
depois de uma certa idade, Irene começou a desgostar de suas bonecas. um certo dia, convidou a garotinha feliz filha da vizinha para conhecer a sua coleção. tinha feito uma boneca em homenagem à menina. a garotinha ficou emocionada e tudo mais. Irene a trancou na casa da árvore e com querosene incinerou tudo: as bonecas, a casa, a árvore e a filha da vizinha. os bombeiros chegaram atrasados. Irene ria. todos a julgaram louca e a internaram num sanatório. lá, ela passou a fazer terapia ocupacional construindo marionetes às quais chamava pelo nome dos doentes, médicos e enfermeiras que rondavam e viviam no lugar. Irene era feliz e ria só de pensar no fogo e nas cinzas que sobrariam do centro psiquiátrico. ela também construíra uma marionete a sua imagem e semelhança. dessa vez nem ela seria poupada.
nem se incomodou com o zunido fino da lâmina cortando o pulso esquerdo atravessando o braço todo. o sangue fino saiu aos poucos, singelo e verdadeiro como quase tudo que sempre acreditou. da música que ouvia ao fundo fixou apenas o refrão: love, love will tear us apart, again!!! apertou a tecla de imprimir e olhou o papel saindo da impressora. poderia ter escrito algo melhor, ainda pensou. naquele penúltimo instante, ainda imaginou que teria valido a pena. sorriu. por fim, pegou o telefone e discou... uma, duas, três vezes. quando ouviu a voz do outro lado aumentou o som no controle remoto. olhou, fixamente, para o sangue que molhava o carpete da sala. love, love will tear us apart, again!!!
dois ou três riffs e pronto. tiro para o alto, correria. bodies... sangue pra debaixo do tapete! eu sou um anticristo... eu sou um anarquista!!! ... foda-se a mancha de sangue sobre o meu casaco. ei moço educado fazendo cara de nojo: pow, pow, pow...
antonio imaginou que não poderia conseguir viver mais que quarenta anos sem tomar um rumo na vida. essa, para ele, era a idade limite entre a razão e a ausência dela. depois, não haveria porque continuar insistindo. poderia resolver de forma simples. totalmente indolor como sempre sonhou. rita, quando chegou da cidade onde nasceu e cresceu pensou que estaria começando uma vida nova. tudo seria diferente e, perto dos quarenta, teria casa, família, tv de 29 com dvd e celulite pra se sentir realizada. mas a vida nem sempre é assim, retilínea e uniforme. então rita cruzou o caminho de antonio um belo dia, na esquina da praça na hora do pastel com caldo de cana do fim da tarde. eles se olharam. ele teve a certeza. ela. tímida, baixou os olhos e esboçou um leve sorriso. era sim, a mulher da vida dele. assim, como havia sonhado, sacou o calibre .38 e esvaziou o tambor de uma única vez. retilíneo e uniforme. depois sorriu e terminou de comer o pastel enquanto tava quente. levantou e caminhou lentamente sob os olhares dos populares. arrotou o último gole do caldo e recarregou o revólver. mirou certeiro e não pensou duas vezes. pow! entre os olhos. e caiu no asfalto quente com o derradeiro sorriso.
Talvez tenha sido o barulho. Interminável do saco de pipoca sendo remoído bem na cena do happy end na sessão de meia-noite. E depois o cróac cróac do barulho da boca quando o pau do mocinho parecia em ponto de bala. Claro que não agüentei. Reclamei na gerência e nada. Disparei três vezes entre os olhos do moço loiro atrás da mesa revirando papéis. Errei, era o recepcionista. Perdi o final do filme.
Te matei sem querer. Eu mesmo não tinha culpa se cuspias demais e tinhas o hábito pouco comum de peidar enquanto gozavas em nossas epopéias sexuais. Confesso que te amava, não minto. Amava mesmo. Havias sido o meu único amor e isso foi levado em consideração no ato redentor. Afinal, foram apenas seis golpes certeiros com a peixeira enferrujada bem no meio da buceta gasta, porém honesta. Depois rasguei com vontade rumo ao ventre agora livre estripando com piedade. Sete era o teu número de azar.