9.7.07

retilíneo e uniforme

antonio imaginou que não poderia conseguir viver mais que quarenta anos sem tomar um rumo na vida. essa, para ele, era a idade limite entre a razão e a ausência dela. depois, não haveria porque continuar insistindo. poderia resolver de forma simples. totalmente indolor como sempre sonhou.
rita, quando chegou da cidade onde nasceu e cresceu pensou que estaria começando uma vida nova. tudo seria diferente e, perto dos quarenta, teria casa, família, tv de 29 com dvd e celulite pra se sentir realizada.
mas a vida nem sempre é assim, retilínea e uniforme.
então rita cruzou o caminho de antonio um belo dia, na esquina da praça na hora do pastel com caldo de cana do fim da tarde. eles se olharam. ele teve a certeza. ela. tímida, baixou os olhos e esboçou um leve sorriso. era sim, a mulher da vida dele.
assim, como havia sonhado, sacou o calibre .38 e esvaziou o tambor de uma única vez. retilíneo e uniforme. depois sorriu e terminou de comer o pastel enquanto tava quente. levantou e caminhou lentamente sob os olhares dos populares. arrotou o último gole do caldo e recarregou o revólver. mirou certeiro e não pensou duas vezes. pow! entre os olhos. e caiu no asfalto quente com o derradeiro sorriso.

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