18.12.06

um jambeiro belíssimo

"Tristeza não tem fim, felicidade sim".
Essa bem que poderia ser a letra de uma canção pop dos anos 80.
Parece incrível, mas toda uma geração de pessoas como eu, na média de 35, 38 anos de idade, sofre de um mal eterno: uma enorme compulsão para a tristeza.
No livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby (leitura obrigatória) o personagem afirma que todas as pessoas realmente tristes que ele conhece são amantes de música pop e mais, não sabe se a música pop os tornou assim ou se ela é assim por conta dessa melancolia. E, a partir disso, paro pra pensar onde vai dar toda essa tristeza. Será que ela é verdadeira ou faz parte de resquício da juventude vital para se permanecer vivo. Uma pessoa sempre feliz pode existir de fato? Por que eu nunca gosto de quem ri demais? Por que nunca consigo ser otimista?
A Geração dos Anos 80 tá bem perto de chegar aos 40 anos. Boa parte, segue tentando encontrar formas alternativas de felicidade. Alguns aderiram ao modelo yuppie, outros, desfilam por aí com as suas camisas dos Smiths e estão sempre em busca de alguma coisa diferente, alguma banda que preencha o vazio deixado no peito. São pessoas que nunca estão totalmente bem, estão sempre "indo" e certamente, não sabem pra onde. Ouvem música com a mesma fidelidade de outrora. Procuram nas novas bandas uma espécie de continuidade ao que se construiu nos 80'. Um legado, talvez. Essa é uma forma de permanecer renovado, de satisfazer o ego provando pra si mesmo que "não parou no tempo". Mas, em qualquer oportunidade, no mínimo sintoma de uma crise de angústia, tome Smiths, Cure, Joy Division e afins. É uma doença!
Falo dessas bandas mais pops porque, na minha compreensão, o heavy metal não deixou esse tipo de lastro. Talvez o punk sim. Aliás, todo punk que se preze deve ter hoje em torno de 35 anos. Não acredito em nenhum punk com menos de 30. Não há nada mais punk do que tentar sobreviver sem grandes perspectivas.
Alguns amigos tem reclamado bastante de suas condições de vida atual. Sinto-me nesse bloco. Passar dos 30 e não ter, digamos, uma vida normal, condicionada e responsável pode causar danos irreparáveis. São situações constrangedoras nas festas de confraternização do trabalho, nas reuniões das escolas dos filhos, na vizinhança, enfim... Sempre tem alguém que chega, nesses encontros e pergunta: "não gosta dessa música não?". E, porra, tudo acaba se resumindo a música que está tocando.
Há todo um complexo de espaços sociais onde você sempre se sentirá deslocado e com aquela enorme vontade de fugir, chegar em casa e colocar pra rodar aquele cd ou vinil daquela banda que você idolatra. No caso do vinil, maior gravidade. Aqueles que, como eu, cultuam a velha bolacha e acabam transformando cada uma de suas audições num verdadeiro ritual de nostalgia etílica estão em pior situação.
Me pergunto e esse é o objetivo dessas mal traçadas linhas: o que será de tanta tristeza, melancolia e rebeldia tardia depois que passarmos dos 40?
Sinceramente, nem sei se era isso que eu queria escrever. Mas hoje é sábado, são nove horas da manhã e acho que vou retirar o meu som que toca vinil do quartinho onde fica. Penso em ouvir Tom Waits, Replicantes, Sugar Cubes, Sex Pistols, Violeta de Outono, Laurie Anderson, Smiths (é claro), Vzyadoq Moe, Dead Kennedys, Cure, (...), (...), e outras coisas mais.
No fundo do meu quintal, há um jambeiro belíssimo. Lá, tem uma sombra imperdível e acho que tem carne pra churrasco na geladeira e alguma bebida. Nem sei se posso ser mais feliz do que isso. E olha que o Gabriel ainda dorme!
Alguma sugestão?

Um comentário:

Anônimo disse...

Triste quando venho aqui e não encontro nada novo seu postado.