18.12.06

fichas não caem mais

TEXTO ANTIGO, ESCRITO EM 2001. ACHEI LEGAL COLOCAR AQUI.
AFINAL, POUCA COISA MUDOU...

FICHAS NÃO CAEM MAIS

Não sei o que anda acontecendo.
Quarta-feira, fui a um bar da cidade onde, segundo propaganda dos jornais, músicas de diversos estilos seriam tocadas com reprodução em vinil. Idéia legal, há certo charme e poesia nisso, a princípio. Além do mais, sou um daqueles dinossauros que teima em guardar algumas centenas de vinis e vê nisso um tipo de resistência ou sei lá o quê. Bobagem.
Mas o fato é que fui. Cheguei cedo demais e um amigo já me esperava sentado numa mesa tomando calmamente a sua dose de rum.
Daqui a pouco, chegaram os djs, outras pessoas, várias conhecidas e tudo começou.
E tome música: pinduca, bossa nova, mpb aos montes, edith piaf, roberto carlos, teixeira de manaus (sic!) e outras coisas mais.
Nas mesas: modernos, pós-modernos, pré-modernos, heavies, garotas e garotos espertos.
Algo estranho? Não sei. Uma ex-amiga se aproximou da mesa e perguntou se alguém havia me enganado. Como assim? Não, porque a idéia aqui é exorcizar. Como? Exorcizar o que? Que tipo de demônio?
Daí caiu a ficha.
Lobão, fez uma música ou um disco - não me lembro muito bem - chamado "Nostalgia da Modernidade". Era algo assim que estava acontecendo ali, naquele ambiente.
Pessoas buscando um passado perdido ou negado de alguma forma. Exorcizando seus próprios medos e demônios interiores. O passado. Qual? Aquele negado em prol de uma atitude moderna: música eletrônica, rock and roll, baratos afins.
Ah, então era isso. Sabe aqueles discos velhos dos seus pais que você sempre quis quebrar ou jogar fora em atitude de rebeldia? Pode ouvir a vontade... e nem precisa tirar o piercing. É moderno ouvi-los agora. E pode até chamar os amigos. Eles também vão gostar!
Assim, cheguei a uma conclusão definitiva: não há nada, absolutamente nada que eu queira exorcizar em mim. Muito pelo contrário. Adoro discos em vinil e tenho centenas deles. E são bem diversificados até. Vão de Billie Holiday a Sex Pistols, Mutantes, Black Sabbath, Chico Buarque e até Eddie Cochran.
E aí caiu outra ficha. Eu não sou um cara tão moderno assim.

Até porque, fichas foram substituídas por cartões.

2 comentários:

Anônimo disse...

adoro exorcizar coisas, pessoas, tudo, tudo, adoro jogar coisas fora, mas mantenho, inexoravelmente tudo que me dá prazer, vc, ele...

Eduardo Eugênio Batista disse...

Mais vale um sentimento do que uma ilusão.