24.9.07

sempre próximo do fim

achou um pouco estranho quando acordou naquela manhã de setembro e percebeu que não sentia mais dor. observou cada parte do corpo onde antes haviam hematomas. eles haviam sumido, tão misteriosamente quanto haviam aparecido um dia. joana nem conseguia crer no que estava sentindo. foram anos de dor, de misteriosas feridas sem explicação e a eterna impressão de que tudo sempre estaria próximo do fim. sempre, próximo do fim.
naquele primeiro dia sem dor, ficou em dúvida sobre o que poderia fazer. ir a praia, pensou. caminhar pelo parque, outra hipótese. tinha receio. não confiava em si mesma e desconfiava que a qualquer momento colocaria tudo a perder. não havia motivo, pensava, para que tudo mudasse a partir de agora. de fato mesmo, o que faria da vida se não sentisse mais nada? não fazia muito sentido a ausência da dor, da sua tristeza ininterrupta e de todo o resto que a acompanhava.
joana não hesitou, resolveu ficar em casa, fechar todas as janelas e esperar por ela até que resolvesse voltar. sim, tinha certeza como poucas vezes naqueles anos mal vividos. ela voltaria e se sentiria mais segura para ir em frente.
joana nunca imaginou que gostava tanto de ser do jeito que era. confiante como nunca havia sido, ela colocou uma música e deitou no meio da sala, com pouca luz e nenhuma vontade de sair dali. e lá decidiu que ficaria, até a volta da felicidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

O que sobra, depois de subtrair tanto?

Anônimo disse...

Matando todo o resto de amor.