7.4.07

tinha escolhido ser assim

havia uma sombra no asfalto frio de alguém que não era ela. tinha vivido sessenta e cinco anos, muito pouco e as esperanças não mais existiam. não sorria, quase não falava e vivia só. tinha escolhido ser assim, não achava ruim e mesmo naquele instante derradeiro decidiu não se arrepender. lembrou dos homens que não teve, dos amigos que magoou e das chances que desperdiçou. tinha escolhido ser assim. lembrou daquela música que nunca ouviu, do vinho barato que sempre tomou. pestanejou. esperou a hora correta. pensou no último desejo, nas últimas palavras e arriscou um telefonema. linha ocupada. claro. não haveria de ser diferente no derradeiro instante. então, esperou. o dia amanheceu, veio o sol quente, asfalto idem. depois escureceu novamente, amanheceu de novo e o tempo foi passando. esqueceu da fome, da sede, de quase tudo. morreu. sorriu. tinha escolhido ser assim.

2 comentários:

Klycia Fontenele disse...

perfeito... a descrição suscinta e a imagem que o conto forma traz um estilo muito bom!

também gostei da letra "máquina de escrever", levou-me ao passado, eu nostalgia...

Anônimo disse...

hello dear, perfeito o niver. amei demais. vc é o cara. onde estão os escritos? vamo trabalhar rapá. bj. N