25.12.06

tempos difíceis, como sempre serão

Encontrei ao longo da minha vida quatro ou cinco pessoas que de fato resolveram não levar muita coisa a sério. Dessas, duas meteram uma bala na cabeça e desistiram cedo. As outras, vagam errantes com pouca esperança imaginando que o fim está perto.
Lembro certa vez quando cheguei na casa do Valmar e ele ouvia Electric Funeral, do Black Sabbath. Era um ritual particular de enterro daquilo que ele chamou o seu atestado de óbito. Achava que não duraria muito, que teria pouco tempo e aquela era a música fúnebre que ouviria no último suspiro. Ele não foi um daqueles dois que não teve paciência e foi embora mais cedo. Ele ainda tá por aí.
Quarta passada, me ligou e disse que me amava. Depois foi enfático: "cara, eu tô fodido, na merda total..." Tava bêbado o velho amigo na hora do telefonema. Imaginei que ele duraria pouco e que dessa vez realmente a música do ritual iria ser ouvida. Não por mim.
Hoje, moro longe e o Valmar faz parte das minhas lembranças dos tempos de Manaus. O velho amigo irá partir um dia. Eu também. Não sei se ainda ouvirei o Sabbath sem que não possa lembrar daqueles tempos. Tempos difíceis, como sempre serão. Viver não é mesmo a coisa mais simples do mundo. Perder a paciência é o mais nobre momento dessa relação delicada. Coragem de poucos. Duas pessoas que conheci meteram uma bala na cabeça e desistiram cedo.

para Valmar, velho amigo



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