21.11.06

... e o sangue vermelho correu sem rumo

E a velha nua parou à beira da estrada.
Olhou para um lado, depois para o outro.
Respirou fundo, profundo,
como se fosse a última vez.

Um carro velho, como ela, descia a ladeira.
Sem rumo, como ela.
A velha pensou.
Assim, do nada.

Sentiu o vento parco,
o calor grudado à pele distorcida,
o cheiro verde seco
e nenhuma esperança.

Assim, do nada,
sentiu vontade de viver.
Como se fosse a primeira vez,
uma primeira vida.

Apontou certeira para o velho carro
sem rumo como ela em alta velocidade.
Não tinha nenhuma dúvida:
resolveu viver.

E o sangue vermelho correu sem rumo.

Estrada velha, como ela.

Para Balso Snell



2 comentários:

Anônimo disse...

Absurdamente Lenildo Gomes.
Visceral, real, pungente, lindamente desencantado, vivo e ainda semi-morto.
A cada dia "especialista" da vida... de ótica sem lentes, sem as armações da "cultura" da "boa vida", do "bom viver", do "eu sou, fui e quero ser".
Apenas vê... e maravilhosamente escreve.
Adoro vc moço...adoro!
Thanks!

Anônimo disse...

texto retumbante
como uma bumba batendo
no seio moxo
como uma tumba
arrastada
pelas raizes
da mesmice.