Olhou para um lado, depois para o outro.
Respirou fundo, profundo,
como se fosse a última vez.
Um carro velho, como ela, descia a ladeira.
Sem rumo, como ela.
A velha pensou.
Assim, do nada.
Sentiu o vento parco,
o calor grudado à pele distorcida,
o cheiro verde seco
e nenhuma esperança.
Assim, do nada,
sentiu vontade de viver.
Como se fosse a primeira vez,
uma primeira vida.
Apontou certeira para o velho carro
sem rumo como ela em alta velocidade.
Não tinha nenhuma dúvida:
resolveu viver.
E o sangue vermelho correu sem rumo.
Estrada velha, como ela.
Para Balso Snell
2 comentários:
Absurdamente Lenildo Gomes.
Visceral, real, pungente, lindamente desencantado, vivo e ainda semi-morto.
A cada dia "especialista" da vida... de ótica sem lentes, sem as armações da "cultura" da "boa vida", do "bom viver", do "eu sou, fui e quero ser".
Apenas vê... e maravilhosamente escreve.
Adoro vc moço...adoro!
Thanks!
texto retumbante
como uma bumba batendo
no seio moxo
como uma tumba
arrastada
pelas raizes
da mesmice.
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