11.10.09

crime passional nº 2 - espinha de peixe

gostava sempre do peixe torrado, fritinho tanto que ficava seco pra comer. caprichei naquele dia, traíra fresquinha comprada na bodega do cavalcante. ele, como sempre, chegou bêbado e fedendo da noite anterior. pegou com a mão, encheu de molho de pimenta e traçou a primeira com doses de cana. na segunda, entalou. começou tossindo... tossindo... e tossiu muito! espinha de peixe atravessada na garganta. foi ficando vermelho depois sem cor. caiu. terminei de ler o signo e cheguei perto pra ver se havia acabado. restava um olhar derradeiro esvazindo-se com o último suspiro. morreu, tadinho! enfiei o dedo na goela, tirei a bicha que tava atravessada. essa, haveria de guardar como lembrança. troféuzinho singelo porém sincero!

crime passional nº 1 - pudim de rapariga

dormia que roncava. primeiro uma, depois duas, três, quatro. na quinta se estrebuchava no sofá rasgado da sala feito peru com o pescoço torcido em véspera de natal. agora, morria aos poucos. a sexta gota do oléo cozido no ouvido esquerdo foi só pra ter certeza. e foi bem assim, sem culpa nem piedade. só por causa do pudim rejeitado na noite anterior. "garanto que se fosse da rapariga ele gostava. do meu, reclamou da pouca calda. bem feito! agora quero ver se tem pudim de rapariga no inferno."